Modelando pepinos para um futuro melhor
O Município – Impresso – Flip Sábado, 11 de janeiro de 2025, às 00:00
Já se dizia, tempos atrás, que “é cedo que se desentortam os pepinos”, uma expressão popular que remete à importância de moldar comportamentos desde a infância. A frase faz sentido quando pensamos no crescimento de um pepino, mas, ao falarmos de educação, especialmente a “não formal” — aquela que vem de casa —, os ditados precisam ser revisitados e atualizados.
A cultura oral sempre nos ensinou que o seio familiar é o primeiro espaço de aprendizado. É no convívio doméstico que recebemos as primeiras lições que moldam o resto de nossas vidas. Educação e cultura caminham juntas, de forma transversal, mostrando que não há divisão entre educar e aculturar. Aprendemos tanto fora dos bancos escolares quanto dentro deles, e esses ensinamentos nos acompanham por onde quer que vamos.
Enquanto pensadores como Jean Piaget, Maria Montessori e Auguste Comte dedicaram-se a teorizar sobre educação, o produtor rural, ao cuidar do ciclo completo do pepino até que ele chegue à mesa, pensou na cultura do plantio. Ambos, no entanto, falam de educação e cultura como bases essenciais para a sobrevivência humana. Diante disso, surge a pergunta que ecoa a cada nova edição das COPs (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima): ainda há tempo para salvar a humanidade?
Sabemos que o modelo econômico e energético adotado é o grande responsável pela crise ambiental que vivemos. No entanto, tornamo-nos reféns desse sistema, e qualquer tentativa de mudança esbarra em interesses poderosos. Como diz outro ditado, “deixam chorar, mas não deixam cantar”.
Na COP2A4, assim como nas edições anteriores, pouco se destacou o papel crucial da educação e da cultura na formação de cidadãos conscientes e comprometidos com a preservação ambiental. Nesse cenário, a família assume um papel fundamental como educadora, sendo a primeira a dar exemplos e ensinar valores de sustentabilidade. É em casa que se aprende a cuidar da fauna e da flora, a lidar com resíduos, a adotar práticas sustentáveis e a repassar esses conhecimentos de forma clara e perene.
Don Policarpo, geógrafo, professor, consultor em meio ambiente e escritor com mais de 20 títulos publicados, traz essa reflexão para o universo literário com seu livro infantojuvenil A Árvore dos Alados. A obra, que aborda a preservação da natureza, é um convite para que crianças e jovens reflitam sobre sua relação com o meio ambiente e o impacto de suas ações no planeta.
Em um mundo onde a urgência climática exige mudanças profundas, a educação e a cultura surgem como ferramentas poderosas para transformar mentalidades e hábitos. Afinal, como bem nos lembra a sabedoria popular, “é cedo que se desentortam os pepinos” — e também é desde cedo que se formam cidadãos conscientes e responsáveis pelo futuro do planeta.